Mulheres chefiam 52% dos lares no Brasil, mas ganham 20,7% a menos que os homens: o impacto da desigualdade nos lares brasileiros
- Pedro Emerenciano

- 8 de mar.
- 3 min de leitura

Apesar de serem a base econômica de mais da metade dos lares do país, as mulheres continuam recebendo salários menores e enfrentando dificuldades para crescer profissionalmente. A desigualdade de gênero no mercado de trabalho não apenas prejudica a autonomia financeira feminina, mas também impacta a estrutura e o bem-estar das famílias brasileiras.
De acordo com um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), publicado em março de 2025, 52% das famílias brasileiras eram chefiadas por mulheres no terceiro trimestre de 2024. Esse número sobe para 92% nos lares monoparentais, nos quais as mulheres arcam sozinhas com todas as despesas e responsabilidades domésticas.
Mesmo assim, um relatório do Ministério do Trabalho e Emprego, divulgado em setembro de 2024, revelou que as mulheres ganham 20,7% a menos que os homens. A situação se agrava em cargos de chefia, onde elas recebem apenas 73% do salário pago a um homem na mesma função.
O peso da jornada dupla

Além de receberem menos, as mulheres também trabalham mais. Segundo um levantamento do portal G1, publicado em março de 2024, 83% das mulheres afirmaram viver uma dupla jornada, equilibrando trabalho formal e afazeres domésticos. O estudo revelou ainda que 45% das entrevistadas não contavam com uma rede de apoio ou ajuda de parceiros.
“A rotina é exaustiva. Trabalho oito horas por dia e, quando chego em casa, preciso cozinhar, limpar e ajudar meus filhos na escola. Meu marido trabalha tanto quanto eu, mas não divide as tarefas de casa”, conta Renata Souza, de 34 anos, assistente administrativa e mãe de dois filhos.
Exclusão digital e novas ameaças
O avanço da Inteligência Artificial (IA) e das novas tecnologias trouxe uma preocupação extra. De acordo com um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgado em agosto de 2024, apenas 48% das mulheres tinham acesso à internet, contra 55% dos homens. Essa exclusão digital limita o acesso feminino ao setor de tecnologia, uma das áreas mais promissoras do mercado de trabalho.
“A tecnologia tem potencial para reduzir desigualdades, mas, no momento, está ampliando a diferença entre homens e mulheres. Muitas profissões femininas podem ser substituídas pela IA, enquanto as mulheres ainda têm dificuldades para ingressar em setores de TI e engenharia”, explica a economista Lívia Gouvêa, do BID.
Assédio e discriminação: Um medo constante

O ambiente de trabalho também não é seguro para muitas mulheres. De acordo com o Infojobs, citado pelo G1 em março de 2024, 65% das mulheres já sofreram assédio ou preconceito no emprego. O dado alarmante revela que 45% das vítimas sequer denunciam as agressões, por medo de represálias.
A discriminação começa já nos processos seletivos: 70% das entrevistadas acreditam que perderam oportunidades de emprego apenas por serem mulheres.
A advogada trabalhista Mariana Oliveira alerta que o problema persiste porque muitas empresas não têm políticas claras contra o assédio. “Em muitos casos, a vítima tem medo de denunciar porque não há canais seguros dentro da empresa. Isso perpetua um ciclo de violência psicológica e sexual”, afirma.
Fonte: Infojobs/G1, março de 2024
O que pode mudar?
Para enfrentar essas desigualdades, o governo brasileiro lançou, em setembro de 2024, o Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral. O projeto prevê 79 ações para diminuir as disparidades no mercado de trabalho. Entre as medidas estão:
Incentivo à capacitação de mulheres em áreas tecnológicas.
Revisão da licença-paternidade para equilibrar responsabilidades domésticas.
Fiscalização rigorosa para garantir a aplicação da Lei da Igualdade Salarial.
Criação de programas de apoio psicológico e jurídico para mulheres vítimas de assédio.
Para especialistas, essas medidas são um avanço, mas não resolvem o problema por completo. “A desigualdade de gênero não se resolve apenas com leis. É preciso uma mudança cultural e estrutural dentro das empresas e da sociedade”, afirma Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho.
Impactos e reflexões
O Brasil tem avançado na luta por equidade de gênero no trabalho, mas os desafios ainda são enormes. Salários desiguais, carga de trabalho excessiva, assédio e exclusão digital formam um cenário preocupante para as mulheres no país. Se o futuro reserva mudanças, elas dependerão não apenas de novas políticas públicas, mas também de uma transformação cultural que garanta oportunidades justas para todas.
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